Preços dos produtos relacionados com as festas aumentaram, enquanto salários continuam os mesmos
Segundo um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) dos últimos 12 meses, os produtos da ceia de Natal subiram de forma assustadora. O frango inteiro, por exemplo, teve aumento de 27% no período.
Além do frango, há uma lista de outros produtos com elevação de preços, com destaque para as carnes, com o pernil suíno registrando aumento de 31%. Se formos ao mercado, mais especificamente neste período do ano, os itens que custavam mais barato ano passado passam a ser mais caros nesse ano.
Uma das razões do aumento desses custos se deve ao crescimento no volume das exportações. O professor do departamento de Economia da Universidade Regional de Blumenau (FURB), Jamis Antonio Piazza, explica de que maneira as exportações afetam os preços do mercado interno.
“As empresas, hoje, preferem exportar mais do que vender no mercado interno. Em função do que? A nossa moeda hoje tem uma desvalorização muito grande perante a parte do dólar, então essas commodities, que nós chamamos, o milho, o arroz, o feijão, o açúcar, são itens que eu prefiro vender para o mercado externo e consequentemente isso gera uma falta aqui no mercado interno, com um aumento substancial com esses determinados preços”, observa Piazza.
Veja mais sobre o aumento no preço das carnes na reportagem em vídeo abaixo:
O consumidor deve ficar atento
O preço da cesta básica divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Florianópolis passa dos R$ 700. O que não é aceitável pela população de Santa Catarina nem do Brasil , que tem como base o salário mínimo de R$ 1.100 em 2021.
Hoje o custo de vida está muito alto. A gasolina passa dos R$ 6 o litro, e o gás de cozinha dos R$ 130. A parte da população que ganha apenas o salário mínimo para sobreviver não consegue tirar um centavo do bolso para poder ter seus momentos de lazer, como viagens, presentes, gastronomia diversificada, ainda mais agora no Natal. Conseguir comprar produtos variados para a ceia de Natal e para as festas de fim de ano se torna uma tarefa difícil, pois as pessoas precisam sustentar suas famílias e pagar suas contas.

Marco Aurélio da Silva Júnior, 20 anos, é cidadão de Blumenau, trabalha como repórter na TV Gaspar e ganha um dinheiro extra dando aulas de xadrez. Ele diz que não está sobrando dinheiro, que o que ele ganha está sendo suficiente para pagar as contas. Com o aumento da inflação, comenta Silva Júnior, está mais difícil gastar para se divertir e os planos para o final do ano envolvem ficar em casa.
“Antes dessa alta dos preços eu saia bastante de carro. Eu jogo futebol 7, por um time de Florianópolis, e eu vinha toda semana, porque daí o time pagava minha gasolina. Agora não dá mais pra eles pagarem a gasolina cheia, daí eu acabo não indo. Eu acabo jogando menos, por exemplo, porque está muito caro as coisas. Então realmente é complicada a situação”, resume.
Comparação de preços revela custo mais alto dos itens de Natal
Se compararmos os preços dos produtos nos encartes de um supermercado do Vale do Itajaí, como a Cooper, com ofertas válidas entre os dias 9 até 22 de dezembro de 2020 e os preços no site da empresa no dia 28 de novembro de 2021, veremos uma grande diferença no custo de diversos produtos procurados no Natal.
Para começar, o peru da marca Perdigão, por exemplo, que custava R$ 17,98 em 2020, hoje é oferecido para os consumidores no valor de R$ 25,98. Os panetones, outro item comum nesta data, também aumentaram. Panetones de 500g da marca Bauducco custavam R$ 16,90 em 2020, passando para R$ 20,98 em 2021.
Fora essas comparações de itens procurados com frequência no Natal, a pesquisa do IBRE/FGV apresenta uma lista de outros produtos que tiveram elevação de preços nos últimos 12 meses. Entre outros exemplos, vale citar o azeite, que teve aumento de 9,72%; o vinho, que subiu 3,94%; as frutas, com 14,99% de elevação e o bacalhau que, por pressão do dólar, aumentou 10%.
Mas apesar do aumento nos preços, o comércio de Blumenau tem expectativa para o aumento nas vendas, diferente do cenário de 2020, quando muitos consumidores deixaram de comprar e gastar por se sentirem inseguros com um ano muito instável, com a disseminação da pandemia de Covid-19 e ainda sem data definida para o início da vacinação contra a doença. Com um cenário diferente em 2021, a população está pagando mais caro pelos produtos, mas está comprando mais esse ano.
Alternativas para quem está buscando por uma renda extra
Famílias que estão com dificuldades financeiras após mais de um ano de prejuízos na economia causados pela pandemia de Covid-19 podem contar com doações de diversos grupos, coletivos e entidades no final do ano.
Para quem está procurando por uma renda extra neste final de ano, o analista de investimentos Leonardo Hoefter de Lucca dá algumas dicas: “Aproveitar agora o final do ano que o mercado informal está aquecido, talvez trabalhar em alguma coisa temporária, vender alguma coisa para o pessoal que quer comprar presentinho de Natal, algum tipo de chocolate, bolos de pote, até vender picolé na praia, trabalhar em restaurantes que final do ano vão lotar bastante”.
Em Blumenau, muitas oportunidades de trabalho temporário surgiram com a retomada do evento Magia de Natal. Organizado pela Prefeitura, o evento emprega várias pessoas temporariamente para trabalhar na Vila Germânica. De Lucca também recomenda que, quem trabalha e vai receber o 13º salário neste final de ano, busque economizar para garantir um pouco mais de segurança. Outra dica seria a de fazer hora extra neste final de ano para receber um pouco mais no salário.

Há ainda pessoas que pensam em investir no mercado financeiro para trazer renda extra neste final de ano. Mas o analista de investimentos explica que este tipo de aplicação não seria uma boa opção a curto prazo. Quem pode investir, deve pensar em obter rendimento extra para o Natal do ano que vem.
“Quanto mais a gente se prepara para uma data… ela vai ser melhor aproveitada se essa data for feita com muita antecedência, porque você pode começar a investir hoje e gerar capital para o próximo Natal para você realizar uma viagem, comprar mais presentes…”, projeta.
Quando teremos estabilidade econômica?
Os anos de 2020 e 2021 foram muito atípicos, segundo o professor de Economia da FURB, Jamis Antonio Piazza. Mas ele projeto que o cenário começará a melhorar em 2022:
“A previsão para o ano que vem é ter inflação, mas não uma inflação tão alta como nós temos esse ano. A economia é muito instável, a gente trabalha muito com previsão, faz-se uma determinada previsão hoje, que pode ocorrer ou não, porque nós dependemos do cenário interno e também dependemos do cenário externo. Tudo que ocorre aqui e que ocorre lá fora tem um reflexo negativo ou positivo, tá certo? Agora, no ano que vem existe essa expectativa, principalmente uma estabilidade na COVID, em função de um grande número de pessoas já estarem vacinadas, nós temos mais de 100 milhões de brasileiros com a segunda dose, isso daí cria uma estabilidade, mais na parte do próprio mercado e a economia começa a voltar à sua normalidade”.
Jamis Antonio Piazza
Repórter: Aline Vitória de Lucca.