Há quem diga que estar realizado profissionalmente é essencial. É aquela velha frase do “faça o que você gosta, que nunca irá trabalhar”. Mas, e se essa primeira escolha profissional não for a correta? E, se ao longo do caminho, descobrir sua real vocação? Segundo dados do Instituto Locomotiva, publicados em matéria da Revista Exame, 56% das 33,3 milhões de pessoas inseridas no mercado formal redirecionaram suas carreiras em busca de felicidade no trabalho, no Brasil. No Vale do Itajaí o caso, também, é recorrente.
Após trabalhar 15 anos na área financeira de bancos, Janaina Souza Feversani, 42, casada e mãe de dois filhos, decidiu se desafiar e encarar uma nova profissão. No ano de 2016, resolveu mudar totalmente sua área de atuação. Na época, sem saber em que mercado poderia se inserir, buscava o novo e cogitou abriu um negócio próprio, no Rio Grande do Sul.
Ao conversar com profissionais e donos de empreendimentos, resolveu, por hobby, começar um curso de gastronomia, em Santa Catarina e, na confeitaria, despertou uma paixão antes adormecida. “Quando criança, tenho a lembrança de fazer minha primeira nega maluca, na cozinha da casa de minha mãe. Lembro do sentimento de satisfação que tive ao terminar e poder servir o bolo. Anos depois, me descobri de novo profissionalmente na confeitaria”, conta Feversani.
A mudança se deu, principalmente, pela busca do novo. Por ser, segundo ela, uma pessoa que sempre gostou de trabalhar coma criação, o contato com as pessoas e as sensações, a profissão de confeiteira lhe pareceu realizadora.

Para a Psicóloga Especialista em Orientação Profissional, Dione Moura, a insatisfação pela atividade que exerce é um dos principais motivos que levam as pessoas a trocarem de carreira. “Ela [a pessoa] pensa que pode fazer algo mais proveitoso e prazeroso, ser mais feliz na atividade profissional e busca conhecer que atividade é essa”, explica Dione.
A insatisfação pode estar ligada a outros fatores, também, como falta de sentido no que faz, ausência de reconhecimento – financeiro, por exemplo – problemas de saúde ou contratempos pessoais. Evandro Joaquim, 30, deixou o trabalho como administrador da padaria da família por causa de um acontecimento com um familiar no local de trabalho. Ele trabalhava no negócio desde os 12 anos, mas, devido ao ocorrido, ficou quatro meses afastado do trabalho para refletir, até recomeçar na empresa da família de sua esposa, como representante supervisor. Há três anos no emprego, ele ainda não sabe se sente realizado. “Com certeza é mais tranquilo, tenho finais de semana para passar com a família e amigos, mas, nasci em uma padaria, é o que eu sei fazer de melhor, sinto falta, na verdade!”, desabafa Joaquim.
A mudança também acontece de acordo com as oportunidades que aparecem no mercado de trabalho e a disposição em aceitá-las. É o que acredita a estudante de psicologia Evódia Kuhn, 43. “A vida sempre traz diversas oportunidades e quando estamos preparados podemos embarcar nelas”, conta a estudante que, atualmente, trabalha auxiliando mulheres, jovens e adolescentes no meio religioso.
Evódia iniciou na psicologia para ter conhecimento científico e aprimorar o seu trabalho. Contudo, esta não é sua primeira formação. Com a vontade de crescer profissionalmente, já que antes disso trabalhava na produção de uma empresa, na sala de cortes de frangos, ela ingressou na faculdade de administração, pois era o que tinha condições de bancar e, ainda durante os estudos, atuou como assistente administrativa concursada.
“É preciso reconhecer seus talentos e interesses. Nada é para sempre, hoje temos muitas possibilidades de se reinventar a todo tempo”, afirma a Psicóloga Dione Moura, ressaltando a importância no autoconhecimento no processo de renovação na carreira profissional.
Moura, também, dá umas dicas para conhecer seus potenciais e talentos, para a nova atividade. Confira:
– Conheça-se, saiba seus potenciais e talentos para a nova atividade;
– Prepare-se financeiramente para a mudança;
– Pesquisar sobre o novo ramo de atuação;
Para quem está pensando em fazer uma mudança na carreira, a psicóloga destaca que não é preciso ter medo. ”Todo começo é difícil, é preciso ser paciente e perseverante”, diz. A confeiteira Janaina conta que apesar dos obstáculos, sente que está no caminho certo e que encontrou sua verdadeira paixão na confeitaria. “É muito cansativo e sem descanso, porém, depois de terminado é muito mais gratificante. O sentimento de ter alguém apreciando aquilo que você produziu não tem igual”, confessa.