Júlia Vanderlinde
Blumenau é conhecida por ser um grande polo da indústria têxtil e por sua área central sempre movimentada. Longe de todo o caos da vida urbana, o município também abriga uma parte pouco conhecida da cidade, em que agricultores tiram uma parcela do seu sustento da agricultura e pecuária. Mesmo sendo um grande centro urbano, Blumenau possui cerca de 60% do território composto por área agrícola.
Dona Vilma Jorge faz parte da comunidade de pequenos agricultores da cidade. Moradora do bairro Itoupavazinha, todos os sábados vai até a feira livre da Proeb para vender seus produtos. Dona Vilma vende hortaliças, frutas e tem criação de galinhas caipiras, angolanas, gansos e patos. Dessa forma, vende os ovos e também a galinha caipira, que são muito procurados por serem produzidos de forma orgânica. “Olha que coisa mais linda”, ela se entusiasma ao mostrar as variedades de ovos que vende, explicando os benefícios e as diferenças entre cada tipo para os clientes da banca.
Segundo o censo agropecuário do IBGE de 2017, Blumenau possui 666 lotes rurais. Até outubro deste ano, a Epagri já havia atendido 193 famílias. A maioria são de pequenos agricultores que produzem para subsistência e que também trabalham em outras ocupações. As principais atividades agrícolas desenvolvidas se referem à produção agropecuária. São plantados cerca de 140 hectares de milho para silagem, que servem de alimento para rebanhos. Ainda são cultivados aipim, batata doce, banana branca, banana caturra, alface, repolho, brócolis e também vem crescendo o cultivo de palmáceas, como a palmeira real que produz o palmito, uma espécie que se adaptou ao clima de Blumenau.
O jovem agricultor Paulo Ruediegier, de 25 anos, é um dos produtores que se dedica exclusivamente à agricultura. Paulo cria bovinos e cultiva palmeiras, mas sua principal fonte de renda é a plantação de bananas. “Nós vendemos principalmente para a merenda escolar no município de Blumenau, Pomerode e Guabiruba, para mais distribuidores, um de Guaramirim e outro de Massaranduba, e também para os mercados e feirantes”, conta.
A maioria dos lotes rurais em Blumenau surgiu a partir do contexto de como foi a colonização na cidade, influenciando no desenvolvimento da agricultura do município e dos tipos de produtos cultivados. É o que explica Fabiana Moratelli, extensionista da Epagri. “Foram feitos lotes retangulares que seguiam o leito do rio. São lotes longitudinais e que não são planos, o final deles são os perais com vegetação”, diz. Outro fator que contribuiu para o pequeno desenvolvimento na cidade foi a não mecanização da agricultura, e a criação de pequenas, ao invés de grandes lavouras, o que colaborou para um sistema diversificado de produção como suínos, bovinos, hortaliças e frutas.
Também existe uma grande produção de leite. De acordo com o censo agropecuário do IBGE de 2017, são produzidos cerca de 1,2 milhão de litros de leite na cidade. A maioria desse leite é transformado em produtos como nata, queijinho, manteiga e o tradicional queijo kochkäse, que é considerado patrimônio cultural de Blumenau. Os produtos são comercializados em toda a região do Médio Vale.
Incentivos e mercado em crescimento
A prefeitura também oferece incentivos para os produtores rurais da cidade. O diretor de Desenvolvimento Rural, Luiz Carlos Moreira da Maia revela que atualmente o principal desafio e objetivo é manter o número atual de agricultores, principalmente através dos programas de fomento. Um dos principais incentivadores é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnai), programa federal em que o governo compra dos produtores da cidade alguns alimentos para a merenda escolar. Em 2018, foram comprados cerca de R$ 618 mil em produtos de 34 agricultores de Blumenau. A projeção para 2020 é que o número de agricultores aumente e as opções de produtos também.
Outro objetivo apontado pelo diretor é aumentar as pequenas áreas de produção no Centro, resgatando espaços vazios da cidade. Para ele, cada vez mais as pessoas estão comprando frutas e verduras direto do produtor, em vez de ir até um supermercado. “Essa é a vantagem dos agricultores que ficaram, existe um mercado consumidor ao lado e que vem crescendo cada vez mais nos grandes centros”, conta.