O desafio de ser mãe solo

“Ele disse que não era o momento e não estava preparado para aquilo e me abandonou naquele instante”

O Brasil tem mais de 11 milhões de mães solo, e das famílias comandadas por mulheres, 56,9% vivem abaixo da linha da pobreza. Esses dados foram apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2020 e esses números só aumentaram.

Ser mãe solo é um desafio, que pode ser enfrentado durante a gestação ou depois do nascimento. Além das dificuldades de gerar e criar uma criança sozinha, as mulheres enfrentam diariamente os julgamentos de estranhos e até mesmo de pessoas próximas por se enquadrarem nesse perfil.

Ivonete Tarifa, 42 anos, foi mãe aos 20 anos. “Éramos namorados, a notícia pra ele foi devastadora, pois segundo ele, não era o momento e não estava preparado para aquilo e me abandonou naquele instante”, conta ela. Na época, ela morava no interior do Paraná em uma cidade pequena. Ela diz que recebeu muitas críticas e que muitas pessoas chegaram a virar as costas para ela, inclusive seus amigos. Foi expulsa de casa quando ainda estava grávida e, aos oito meses de gestação, sofreu uma queda e passou a correr o risco de ter um parto prematuro.

Ivonete conta que o seu antigo parceiro, pai de sua filha, foi completamente ausente, apenas a registrou em cartório. “Nunca se importou em sequer saber como ela estava. Para ser sincera, acho que em 22 anos viu ela dez vezes”, diz. Ela relata que sempre foi tudo muito difícil, pois precisou se virar sozinha. E uma das coisas mais desafiadoras era o lado financeiro, porque trabalhava exclusivamente para dar conta do sustento de casa e muitas vezes não sobrava dinheiro. “Abrir mão dos meus sonhos naquele momento, eu era jovem estudante, cheia de sonhos, adorava sair e me divertir. De repente era mãe e ela se tornou minha prioridade. Foi muito difícil dar conta de tudo, mas cada vez lutava mais por ela”, lembra ela.

Ivonete teve sua primeira filha aos 20 anos. Foto: Arquivo pessoal

Hoje ela é mãe de três: Joice Cauane, de 22 anos, sua primeira filha, Júlia, de 14 anos e Heitor, de 3 anos. Ivonete conta que sua filha sempre entendeu muito bem a situação, ela sempre foi verdadeira e explicou o que exatamente aconteceu. Sua filha é um dos seus maiores e principais suportes hoje em dia e as duas são melhores amigas. “Ser mãe solteira me ensinou e me mostrou o quão forte eu sou, pois hoje olho pra ela com 22 anos e posso dizer: nós vencemos”, afirma.

Mães solos sofrem julgamentos diários por se encaixarem nesse perfil, mas e as mães jovens e solteiras? Khetlyn Mariany Alvez Bruno teve o pequeno Anthony aos 23 anos. Ela e o pai do bebê se conhecem há oito anos, mas nunca tiveram um relacionamento sério. Mesmo com o susto da descoberta da gravidez, todos os amigos que eles tinham em comum sempre os apoiaram e ficaram felizes por eles. Julgamentos surgiram, porém por eles não terem um relacionamento sério, por durante a gestação ele começar a namorar outra pessoa e até por ela sair com os amigos quando estava grávida.

“Como eu e o pai do meu filho não tínhamos um relacionamento, quando eu contei, ele ficou muito assustado, mas com o passar dos meses foi demonstrando maior tranquilidade e felicidade por saber que tinha um bebê a caminho. As pessoas da minha família sempre me apoiaram muito. Depois de chorar muito com a notícia, eu decidi curtir e aproveitar muito a minha gravidez, pois sabia que era um momento único”, relata Khetlyn.

Khetlyn sempre recebeu apoio de amigos. Foto: Arquivo Pessoal

Ela conta que o pai do bebê sempre se fez muito presente e sempre a ajudou durante a gestação e após o nascimento do pequeno. “Até o momento não tenho o que reclamar, ele me ajuda sempre no que pode. Paga a pensão, ele vem visitar o bebê na minha casa, pois ele ainda é muito pequeno pra passar dias fora”, conta.

Ela conta que Anthony é um bebê bem calmo, mas que tem dias mais tranquilos e outros mais turbulentos. Por ser mãe de primeira viagem, o dia a dia se torna muito cansativo. Por ser um bebê recém-nascido, ele não dorme a noite toda e as noites mal dormidas tornam tudo mais complicado e exaustivo. Mesmo com essas dificuldades, Ketlhyn diz que sente admiração de si mesma por sua força de conseguir dar conta de tudo.

Os desafios são diários: sono desregulado, bebê com cólicas, e sua maior dificuldade no início, a amamentação. Khetlyn fala que a sua gravidez mostrou que é muito mais forte do que imaginava e que, apesar de existir julgamento, ela tenta não ligar para o que as pessoas dizem. “Ninguém vive a sua vida e não sabem das suas lutas diárias”, afirma.

Você sabe a diferença de mãe solo e mãe solteira?

Poucas pessoas sabem, mas há diferença entre os dois termos. Mãe solo é a mulher que é inteiramente responsável pela criança, cuidando de forma 100% independente, sem ajuda alguma do progenitor e com a total ausência dele. Já a mãe solteira, recebe auxílio financeiro, divide a guarda da criança com o pai do bebê e ele se faz mais presente na criação da criança.

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