Saneamento produtivo busca melhorar a qualidade da água captada pela Estação de Tratamento de Água 3 e auxiliar na produção de alimentos
A equipe que atua na Estação de Tratamento de Água (ETA) 3 está incentivando moradores da região da Nova Rússia a implementar o chamado “saneamento produtivo”. Com o intuito de preservar as fontes de captação da ETA 3 no Ribeirão Garcia, a equipe do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) presta apoio técnico aos moradores para a construção de fossas ecológicas.
De acordo com o assessor de Educação do Samae, Humberto Bruzadelli, a Nova Rússia é uma comunidade isolada em termos sanitários. Por isso, ainda segundo Bruzadelli, é inviável tecnicamente e economicamente levar a coleta pública até a região e depois destinar os dejetos a uma estação de tratamento de esgoto. A ETA 3 abastece cerca de 30% da população blumenauense.
Desde a nascente e até a fonte de captação de água, o Ribeirão Garcia passa somente pela comunidade da Nova Rússia. Conforme Bruzadelli, essa comunidade seria, portanto, a única fonte poluidora do ribeirão neste trecho. Para fazer um diagnóstico do problema e entender a realidade da comunidade, o Samae foi a campo em 2019. Além deste trabalho de diagnóstico, os servidores públicos envolvidos no projeto orientaram a população quanto à questão do esgotamento sanitário.
“É necessário que, para conseguirmos melhorar as condições de esgotamento sanitário, não só da Nova Rússia, não só de Blumenau, mas de todo os Brasil, que a gente trabalhe a mudança de perspectiva em relação ao esgoto. Porque o esgoto é visto na maioria das vezes apenas como problema, apenas como gerador de poluição ou de doença. Enquanto essa perspectiva se mantiver, é muito difícil que as condições melhorem da forma que tem que ser”.
Humberto Bruzadelli, assessor de Educação do Samae

De acordo com o ranking de saneamento apresentado pelo Instituto Trata Brasil divulgado em março de 2021, 35 milhões de brasileiros não tem acesso à água potável, enquanto 100 milhões não têm serviço de coleta de esgoto.
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Atualmente, a construção das fossas ecológicas é feita com recursos privados dos próprios moradores e conta com o apoio técnico do Samae. A equipe do serviço municipal ainda não conseguiu um recurso específico para auxiliar financeiramente a população. Mas, segundo Bruzadelli, um dos objetivos do Samae é conseguir a captação de recursos através da inscrição em editais anuais para projetos como este.
Como as fossas ecológicas são feitas
O assessor de Educação do Samae comenta que os sistemas ecológicos foram criados com o objetivo de “tentar imitar” os processos naturais de tratamento dos dejetos. “Na minha opinião, não existe nada mais tecnológico do que a natureza”, comenta Bruzadelli. Segundo o servidor público, não há um modelo perfeito de fossa ecológica e sim a mais adequada para cada região.
A primeira fossa ecológica da Nova Rússia foi instalada por sugestão do Samae por um morador que estava construindo uma casa. Ele instalou a fossa de bananeira com a orientação técnica da equipe do serviço público. A segunda fossa ecológica da região também teve orientação do Samae e funciona no mesmo sistema da fossa de bananeira. Mas nesta segunda estrutura foi utilizado o capim vetiver.

A fossa de bananeira foi um modelo escolhido pelo Samae como representante deste tipo de saneamento para apresentar para as pessoas o chamado saneamento produtivo. Este tipo de saneamento se caracteriza pela produção de alimentos de forma segura.
O modelo utilizado na Nova Rússia é o Tevap: Tanque de Evapotranspiração. “É um saneamento que tem como base essa integração. É um ciclo. Vamos explicar: eu me alimento, depois vou ao banheiro, as minhas fezes e urina se transformam em nutrientes, esse nutriente tratado da maneira correta retorna como alimento para as plantas que geram novamente alimento”, exemplifica Bruzadelli.
Confira, no vídeo abaixo, como a fossa ecológica utilizando o modelo Tevap (Tanque de Evapotranspiração) funciona:
Os próximos passos do projeto na comunidade da Nova Rússia
O assessor de Educação do Samae conta que a previsão é que até o final de 2021 sejam implementados mais dois sistemas de fossas ecológicas a partir da iniciativa dos moradores da Nova Rússia. “A nossa ideia, desde o início, é essa também, de que seja um efeito multiplicador. A partir da primeira (fossa ecológica), outras vão sendo instaladas”, esclarece.
Bruzadelli ressalta que a ideia é que a Nova Rússia sirva de piloto para outros projetos como este em Blumenau. “Grandes áreas da cidade ainda não atendidas pela coleta pública precisam também de um auxílio. A Vila Itoupava, por exemplo, a gente sabe que também enfrenta dificuldades. Então esse projeto, se consolidando na Nova Rússia, seria extensivo obviamente a outras porções da cidade que enfrentam os mesmos desafios”, projeta.
A ETA 3 também possui uma fossa de bananeira. A partir de análises e observações desta estrutura na estação de tratamento, Bruzadelli escreveu um artigo científico com coautoria do ex-estagiário do Samae, Matheus Proença.
O artigo “Fossa Ecológica em uma Estação de Tratamento de Água: uma experiência produtiva” será apresentado no 31º Congresso da ABES – Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. A expectativa dos autores do artigo é que, a partir desta apresentação, o projeto ganhe mais visibilidade e, com isso, que ele ajude a replicar ideias que contribuam para a melhoria das condições sócio ambientais da região.
Confira fotos e informações do projeto de divulgação das fossas ecológicas feito na Nova Rússia por Humberto Bruzadelli

Primeira colheita produzida pela fossa ecológica construída na Nova Rússia, em Blumenau. Crédito da foto: Humberto Bruzadelli/ Samae/Divulgação/Nosso TAL

Apresentação do projeto por videoconferência no dia 11/07/21 para o promotor de Justiça Dr. Leonardo Todeshini. Crédito da foto: Humberto Bruzadelli/ Samae/Divulgação/Nosso TAL

Segunda etapa de coleta dos efluentes de três sistemas individuais de tratamento de esgoto. Crédito da foto: Humberto Bruzadelli/ Samae/Divulgação/Nosso TAL
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Repórter: Joyce Thays Moser.
Editora: Camila Sepka.
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