Segundo especialista, ir e voltar do trabalho em um ônibus lotado pode levar a sérios problemas psicológicos
Edemir Júnior
Diariamente, cerca de 100 mil pessoas utilizam o transporte público municipal, através dos ônibus da Blumob, para se locomover dentro da cidade, de acordo com o Seterb (Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transporte de Blumenau). Conduções lotadas, demora para chegar aos locais de estudo ou trabalho e o trânsito caótico são algumas das principais reclamações dos usuários e que podem influenciar no desempenho destas pessoas durante as atividades do dia a dia.
Para a psicóloga Catarina Gewehr, pessoas que moram muito longe do trabalho e pegam mais de um ônibus para chegar ao local podem entrar em um processo de desgaste psíquico, tantos nos aspectos cognitivos e racionais – que diz respeito a pensamentos e linguagens, quanto nos aspectos emocionais. “O transporte sendo ruim, produz na pessoa uma capacidade menor de tolerar situações de frustração, que podem gerar um quadro depressivo”, afirma Catarina.
A empregada doméstica Ester de Almeida pega a condução lotada todos os dias da semana, percorrendo de ônibus um trajeto de 14km. Ela sai do bairro Vorstadt, na região oeste de Blumenau, e segue até o Passo Manso, no outro lado da cidade, na zona leste. Para conseguir chegar no serviço, Ester precisa pegar três ônibus na ida e mais três na volta. “Eu sempre pego ônibus na frente da minha casa, às 06h15min. Vou até o terminal da Fonte, depois até o da Proeb e pego o Loteamento Primavera, que vai até o bairro Passo Manso, onde trabalho todos os dias. Chego, geralmente, às 07h30min no serviço, ou seja, dá uma hora e quinze de viagem. Os ônibus estão sempre lotados”, relata Ester.
Além disso, a empregada doméstica conta que, por desempenhar um trabalho braçal, a ida em pé no ônibus faz ela sentir um cansaço muito maior. “Eu sempre chego muito cansada no serviço, porque, quase sempre, tenho que vir em pé no ônibus. Acho que teria que ter mais ônibus. O primeiro que passa onde eu moro, sai da Fonte às 18h30min e o próximo é só às 19h20min, então, é muita diferença e, por isso, que os ônibus estão sempre cheios. Temos que ir sempre em pé”, relata.
O transporte e a relação com os diferentes empregos
A psicóloga Catarina Gewehr conta que existe um grande contraste nos níveis de estresse causados pelo mau transporte, entre um profissional que, por exemplo, trabalhe perante um computador, do que outro que execute um trabalho manual. De acordo com ela, no primeiro caso, as respostas tendem a ser mais internalizadas, ou seja, as pessoas guardam mais para si. Então, são grandes as chances de desenvolverem ansiedade e depressão. Já para os trabalhos que exigem maior esforço físico, a tendência é o desenvolvimento de disfunções mais coletivas, passando a uma relação com dependência química ou álcool. “Ele tenta resolver as angústias dele no boteco. O problema de ambos os casos é o mesmo, mas, os jeitos de resolver são diferentes, devido a maneira de trabalho deles”, explica a psicóloga.
Além dos estados citados acima, outros problemas que podem ser desenvolvidos devido à má utilização do transporte coletivo, segundo Gewehr, estão a redução da capacidade de organização de informação dos neurônios, agressividade social, irritabilidade a disfunção social.
A psicóloga sugere a busca de estratégias para encontrar uma solução para este problema. “Tentar organizar os horários, pegando um ônibus que não tenha tanta gente, escutar músicas mais suaves, para ir relaxando durante o trajeto”, aponta e também chama atenção para uma cobrança do poder público sobre este transtorno na rotina. “Se juntar com os demais usuários do transporte coletivo e agir politicamente, cobrando do poder público. Na psicologia social, fala-se muito disso, pois a ação política é uma maneira de manter a saúde mental”, finaliza.