Polvos de crochê auxiliam crianças na UTI neonatal

Iniciativa partiu do grupo Agulhas do Bem, que surgiu em 2015

Edemir Júnior e Karoline de Souza

Ser um bebê prematuro pode causar diversas complicações ao longo da vida. Para acalmar, proporcionar a sensação de conforto, melhorar o sistema respiratório e cardíaco, um brinquedo confeccionado por pessoas voluntárias, que doam o seu tempo e habilidades manuais, vem sendo utilizadas nas maternidades: polvos de crochê.  Ao abraçar um destes brinquedos, o bebê pode sentir os tentáculos do polvo como se fossem o cordão umbilical, assemelhando-se ao útero materno. Entretanto, o efeito terapêutico que proporciona, além dos bebês, serve para as crianças também. “O polvo de crochê pode ser entendido como uma ferramenta de estimulação sensorial, tátil e visual, pois o uso de brinquedos promove um desenvolvimento neurocognitivo melhor de crianças e adolescentes”, conta a psicóloga Janaína Soares. A profissional ainda revela que os polvos substituem a presença dos pais ou de métodos como o aleitamento materno e, também, são uma forma para acalmar os bebês e  buscar diminuir o tempo de internação e as intercorrências.  Esse projeto de confeccionar polvos para unidades hospitalares surgiu em 2013, na Dinamarca, quando um grupo de voluntários começou a costurar polvos de crochê e doá-los para bebês prematuros de unidades. O grupo criou o “Projeto Octo”, que, atualmente, continua doando os polvos para 16 hospitais do país.  Essa iniciativa chegou até Blumenau, onde originou-se o grupo Agulhas do Bem. Cláudia Stolf, coordenadora do grupo, conta que inicialmente, em 2015, o grupo se chamava Crochê Blu. Era um grupo de amigas que tinham em comum o amor pelo crochê e mensalmente se encontravam para trocar idéias, bater papo e tomar café. Mas, foi em 2016 que o grupo começou suas atividades no voluntariado e passou a se chamar Agulhas do bem.  O grupo é totalmente voluntário e usa o artesanato como forma de levar o bem e conforto aos necessitados. “A maioria dos nossos projetos são feitos em crochê por artesãs de Blumenau e região. Inclusive, abraçamos vários projetos, alguns de abrangência mundial como os polvos para UTI neonatal e das perucas de princesas para meninas em tratamento de quimioterapia. Outros projetos são feitos em parceria e patrocínio de empresas, e outras entidades como o Rotary”, explica Cláudia Stolf, coordenadora do grupo.  Fábio é pai de trigêmeos, nascidos em outubro de 2018. Ele conta que quandos os filhos estavam internados na UTI do Hospital Santa Catarina, logo após o nascimento dos bebês, os polvinhos foram de extrema importância para manter a calma das crianças, já que representavam a presença da mãe. “Para nós, e creio que para todo mundo, é meio impactante ter filhos na UTI. E tudo que veio para somar, foi muito importante. Os polvinhos, pelo histórico e pelas utilidades deles, que retratam o cordão umbilical da mãe, a gente sentia que acalmava muito às crianças”, afirma Fábio. O pai dos trigêmeos ainda conta que, para os polvos adquirirem o cheirinho da mãe, ficavam uma noite inteira sob contato do corpo dela. Assim, no próximo dia e com o aroma da mãe, os polvinhos acompanhavam os bebês na UTI. Além disso, hoje, quase um ano depois das crianças terem saído do hospital, os polvinhos continuam sendo os “xodós”, mesmo que tenha outras utilidades, de acordo com Fábio. “Hoje,  já pegam ele (o polvo), dão uma enforcadinha, jogam para lá e pra cá, brincando. Agora é só para brincar”, finaliza.   Associação de Pomerode também fabrica polvos para o hospital Na cidade vizinha, Pomerode, encontra-se o projeto “Feito à Mão”, na Associação de Artesãos da cidade, que nasceu por meio de um núcleo de economia criativa, através de Maurício Nienow, consultor da Associação Empresarial de Pomerode (Acip). Dirce Goede, primeira presidenta do grupo, esclarece que os artesãos recebem cursos de capacitação  através da Acip e da Kyly. Inclusive, também produzem polvos de crochê, comercializam e entregam para o hospital do município.  Para ela, o mais importante em sua jornada foi conseguir formar a Associação, ter um espaço e ver as pessoas conseguindo comercializar seus produtos. Dirce deixa uma mensagem sobre o quão prazeroso é realizar  o ato voluntário: “o crochê e tricô são uma terapia que mantém as mãos ocupadas e faz você pensar na contagem de pontos. Você produz e cria. O espírito de associativismo faz você ver que com pequenos passos se consegue grandes mudanças. Nada é fácil, mas tudo é possível quando se acredita no que se faz”.

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