Blumenau não é uma cidade turística, afirmam empresários do ramo

Mesmo que, segundo o SIHORBS, não há demanda, dois novos hotéis estão sendo construídos na cidade

Edemir Júnior

Você já parou para pensar no por que estão abrindo novos hotéis em Blumenau? Segundo Luisa Borda, diretora de planejamento e promoção do turismo, atualmente, a cidade já possui 40 hotéis e mais dois estão sendo construídos, um às margens da Via Expressa e outro na rua 7 de setembro, no centro. Mas será que a demanda está tão grande assim?

Para Tatiana Honczarick, presidente do SIHORBS (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Blumenau e Região), não há uma reivindicação para investimentos no ramo em Blumenau, pois a cidade já comporta a necessidade de quartos. “Não acredito que seja baseado em uma demanda da cidade, mas sim um capital para investir. Existem fundos de investimentos que hoje constroem hotéis, mas não acredito que seja baseado em pesquisa de mercado, pois Blumenau já comporta a necessidade das unidades habitacionais. É suficiente mesmo em época de Oktoberfest, porque não é só Blumenau, já se fala em Vale Europeu. Então, quem vem para a Oktober, fica nas cidades vizinhas também, já para passear em todo o Vale”, afirma Tatiana.

De acordo com a Secretaria de Turismo de Blumenau, não é possível ter um número exato de quantos turistas Blumenau recebe. No entanto, dá para se ter uma ideia com os números divulgados pelo Museu da Cerveja, um dos mais importantes pontos turísticos da cidade. Em 2017, o local recebeu cerca de 78 mil visitantes, sendo 71 mil brasileiros e sete mil estrangeiros. Já em 2018, foram mais de 80 mil visitantes, com um crescimento no número de brasileiros e declive no de estrangeiros – 74 mil a seis. Nos oito primeiros meses de 2019, o Museu da Cerveja recebeu quase 48 mil pessoas, número que pode aumentar consideravelmente no mês de outubro, devido a Oktoberfest.

Fonte: Museu da Cerveja
Arte: Edemir Jr

Já a média de ocupação anual dos hotéis no município, é muito semelhante nos últimos nove anos. Segundo dados do SIHORBS, de 2010 a 2018, a média ficou entre 53%, registrado em 2017, e 64%, número mais alto, registrado em 2010. Os picos anuais são registrados justamente no período da Oktoberfest, que em seus 17 dias gera uma ocupação média de 83% nos quartos de hotéis de Blumenau.

Contudo, na opinião do empresário José Figueiredo, que está investindo cerca de R$25 milhões em um hotel em construção às margens da Via Expressa, o público-alvo da rede hoteleira em Blumenau não é o turista. “O forte da hotelaria em Blumenau, não é o turístico, é o corporativo. O turismo é um tempero a mais que acontece em outubro e em algumas outras ocasiões do ano. Portanto, é o corporativo o foco, não só meu, mas todos hoteleiros que investem em Blumenau”, pondera. 

Como contraponto a Figueiredo, Tatiana Honczarick acredita que em toda cidade do mundo o turismo corporativo é mais forte, mas que novas alternativas ao turismo de lazer estão sendo postas em prática no, considerado, Vale Europeu: “A secretaria de turismo de Blumenau, assim como o SIHORBS, junto com o Convention Bureau, já estão trabalhando em projetos a curto/longo prazo, visando o aumento do turismo, tanto corporativo como de eventos. Acho que o Vale da Cerveja é um destino que abrange todo o Vale Europeu e que está atraindo muita gente, assim como o cicloturismo. Então, existem vários ramos do turismo, que não é só o corporativo, que hoje atraem visitantes não só pra Blumenau, como para todo o vale”. 

A fala de Tatiana está alinhada com a posição do poder público, representada por Luisa Borda: “O Turismo hoje é divulgado por região. No nosso Vale Europeu, geralmente Blumenau é a cidade onde os turistas se hospedam e aproveitam para conhecer  as cidades de entorno”.

Pesquisa do Ministério do Turismo revela que setor hoteleiro está menos lucrativo

Mesmo que Blumenau esteja recebendo dois novos hotéis, não significa que o setor está de bem com a vida. Um levantamento do Ministério do Turismo com empresários do ramo da hospedagem, apontou que o faturamento no segundo trimestre de 2019 operou em queda para 39,6% dos entrevistados, em relação a 2018. Já a rentabilidade do setor, foi ainda pior: 47,8% dos empresários apresentaram queda. 

Cristiano Klemz, proprietário de um hotel no centro da cidade, confirma o que a pesquisa apresentou, mas garante que o problema, em Blumenau, está no volume de ofertas dos hotéis na cidade: “Estamos vendo um futuro meio complicado pela frente (no ramo hoteleiro). São leitos demais para uma cidade que não consegue comportar tudo isso. Nosso problema está na hiper oferta de quartos e não é tanto um problema de demanda, que se mantém estável”.

Quarto do hotel Glória, no centro da cidade.
Foto: Edemir Jr

Airbnb e Hostels: novas opções que geram desconforto ao setor hoteleiro 

Opções, teoricamente, mais em conta em relação aos hotéis, o aplicativo Airbnb e os hostels ainda não são muito bem aceitos no ramo das hospedagens. O SIHORBS, junto com outras entidades, já está se articulando nos bastidores para que o Airbnb seja regulamentado, seguindo as normas que todo estabelecimento de hospedagem é obrigado. 

“É meio que um caminho sem volta. Os hotéis já cobram um valor diferenciado por conta do serviço prestado. Esse tipo de hospedagem já está muito difundida em todo o mundo e não acredito que tenha volta. Creio que há espaço para todos. Só o que eu acho, e que já está sendo tratado pelo sindicato junto com a OAB e outras entidades, é que há a necessidade de uma regulamentação, para que isso (Airbnb) tenha credibilidade, segurança, com relação a corpo de bombeiros, a vistoria sanitária e com relação inclusive, em ganhos para a cidade, pois é um imposto que se tá perdendo para investir nela própria”, declara a presidente do SIHORBS.

Para a Secretaria de Turismo de Blumenau, vai ser difícil regulamentar o Airbnb, já que os apartamentos do aplicativo não seguem os pré-requisitos do governo federal. O Ministério do Turismo tem um sistema chamado Cadastur, onde todos os estabelecimentos, para serem oficialmente reconhecidos, devem se inscrever. De acordo com a diretora de planejamento, Luisa Borda, somente os hostels são reconhecidos pelo sistema. “Hostel,se tem Cadastur, tranquilo. Airbnb vai ser mais difícil, pois não tem o perfil de hotelaria. Tem muita gente que liga na Secretaria de Turismo pedindo pra colocar o apartamento airbnb no site. Se não tem cadastur, não pode. É um pré-requisito. nós vamos sempre acompanhar o posicionamento do sindicato dos hotéis e do Ministério do Turismo”, explica Luisa.

Já Cristiano Klemz, alega que os impostos cobrados sobre os hotéis são muitos altos e que seria mais justo cobrar o mesmo das demais maneiras de hospedagem ou não cobrar de nenhuma delas. “A tributação e toda a parte legal de exigências de alvarás gera um custo bastante elevado, também as leis trabalhistas das camareiras e recepcionistas. Quem é empreendedor sabe da dificuldade. A exemplo do que aconteceu no Chile (família de catarinenses mortos por vazamento de gás), duvido que alguém aqui de Blumenau fiscaliza os apartamentos, para ver se tem condições de receber o cliente e tudo mais”, declara.

Além disso, o empresário também pondera que os baixos preços dos hoteis na cidade, devem dificultar bastante às locações no aplicativo Airbnb: “hoje, em Blumenau, com esses baixos preços dos hoteis, acho que até eles devem estar com alguma dificuldade em conseguir se vender. Tem muitos hoteis com 120 reais a diária, com café da manhã e no Airbnb vai pagar 80, mais taxa de limpeza e alimentação. Fiz uma pesquisa aqui em Blumenau e eu não ficaria. Mas existe uma tendência. Exemplo: tem o Hilton, em Nova Iorque, que comprou mais de mil apartamentos para fazer Airbnb, então negócio é negócio. Se for o caso, a gente vai fazer isso também, sem problema nenhum”.

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